Sunday, December 18, 2011

Autor com cara de chinelo, martelo e magrelo.
Autor com cara de havaianas, finas, bacanas.
Autor com cara de pezão, sabão e bobão.
Apresentação 
do Autor 
através dos olhos sensíveis de uma criança 


Era uma vez um escritor que se chamava Eduardo. 
Ele sonhava em ver crianças felizes e ser um grande escritor e ser muito famoso. 
De repente sem perceber mergulhou no mundo das letras e se tornou muito amigo de cada uma delas. 
Cada palavra que ele escrevia parecia Ter vida. E quando contava história então era como se fosse real cada fantasia, cada sonho. Era muito divertido. 
Ele era assim muito poeta e divertido também. Eu poderia ficar horas e horas ouvindo suas poesias sem Ter vontade de parar. 
Eu acho que o verdadeiro escritor é aquele que faz a gente se sentir criança, faz a gente sonhar, dar vida aos nossos sonhos. E ele fez isso comigo. 

Bruno Luís Senhuk 
08 anos, 3ª série
E. E. Prof. Pedro Amauri Silva 

Monday, July 27, 2009

Nothing to say...


Músicas

muitas vezes nos dá vontade de morder a música, mastigá-la, fazer com que ela adentre e não escape...vontade de se fragmentar em notas musicais numa pauta, vontade de ouvir ouvir ouvir e incansavelmente ouvir até que saturados, mesmo assim, os nossos ouvidos queiram mais!!!! Bom saber que ainda existam vozes que nos proporcionam este tipo de prazer!!!

Wednesday, November 28, 2007

Os pássaros

Quando o trato é bom, a alegria em vê-los não tem preço...




Labels:

Saturday, June 19, 2004

Sertão de Coisas


Ser tão de coisas

Luftmensch
(Homem de Vento)
A Zeca Ziembik

Um céu de flores
Sem ponte de água
Serena uma rede
De paz orvalhada
A ilhota imóvel
Navega em jangada
Onde sorve a sede
E mata a mágoa
Em verdes odores

Um burburinho
De cadeiras vazias
Em nuvens com afasias
Estanca-se no remoinho

Um rabo encalhado
Em brancas águas
Douram o céu azul
E helicifica os ventos

Um corpo caravaggiano
Fornece me mim odores
Compostos pelas teias
De músculos retesados
Imóveis, meus olhos
Matam a sede
Em seu sertão
Intocado.

My darling

I’m coming home and
Never got the change
To prove myself…

Darling, far beyond the
Rainbow’s end
When you come into my life
We’ve changed
We’ve spent
Such Happy Hours…
If you leave me alone
My love, I’ll cry.

My darling, the tears are in
My mind
And nothing is
Rhyming.
In my brain, still you remain
While I just go on
Living in the past
Since I loved you last.
Campo Santo

Campos verdes, campos verdes,
Três pássaros verdes em sobrevôo
Verdes, três copas frondosas
Aos céus,eu, em campo santo entôo
Três cantos a três ciprestes
Ufanos encantam a três vidraças
Três vidros, três vidas e três asas
Espelham a própria casa
De minha última verde morada.

Número 8

Um peixe dourado
Com olhos azuis
Engole os cabelos da moça
E desova um caudaloso
Rio de ambrosias

Canutilhos denunciam
Descobertas fragmentárias
Do mundo em decomposição
Para salvar Márquez
Da destruição

Superfícies africanas
Amarelovermelhas
Fixamovimentoarte
Nas paredes dos
Sons em instrumentos
Maracatutimbalessurdos
E excitam toda nossa
Comtemporaneidade

As flores no aveludado
Da impressão e realidade
Tipografioficializam
O carnaval personalizado
Das personas persuadidas
Pelo imbróglio graficoarte

A priore brincamos
Com o espaçoarteoito
Em número fixado
Na parede do quarto.

Pesca

Pescarei o salmão
No dourado das superfícies
Com anzóis azuis
De prateadas efígies
Num dormir de sol
Em noturna caça.

Traço delicado

Uma gota
Congela
O inseto
No ápice
Do dente
De leão.

Clavadista

A oração
Salta e
Gira o corpo
No espaço.
O mergulho
Rompe o
Espelho-d`água
E atravessa
A encosta
Do além-mundo.


Paradoxo

A vida, desconhecida, é ouro.
Internalizada, se a conheço, é nada.
Nascemos: sem sentir, sofremos.
Morremos: e, de esquecer, vivemos.
Vivos: a aprendizagem é minada.
Mortos: a vitalidade é genial tesouro.

Vestido de Noiva

Ele, a chuva e o longo véu
Plastificado desejo molhado
Que no ritmo dos pingos
Passo a passo encontra o altar
A cauda é imensa
Flutua pela água que rodopia
Em busca das entranhas
Ele, o âmago e o desejo:
Ser noiva em dia de chuva
E encontrar seu príncipe encantado
Sob forte tempestade à tarde.

Prólogo

Hedera helix
Em praia de pôr-do-sol
Brinca com o verão
De gotículas avermelhadas
No prólogo infantil
De atirar água
Mimetizada em bala
De açúcares mascavos:
Um jovem sangra adulto
Pelos olhos da ignorãça
Reverenciando Satan
Em seu trono de petróleo.

Vazamento

Cachoeirinha
Carrega o córrego
O verde-óleo
Negro petróleo
Em galeria
D`água bruta
Vazante adulta
De vago duto
Viagem virtual
Por corrosão
De exausto material
A turfa absorve
Vegetal o óleo
Resíduo reprocesso
Atmosférico excreto.


Nkosi Johnson

Ah! Ùtero sagrado
Doze anos no enfado
De Mbekiana luta
Africano símbolo
Adotiva disputa
Uma voz apagada
Por agaiviana estrada
Onde a voz desencontrada
Perde a coragem e sucumbe
Na fronteira da viagem.

Agosto

Já estamos em agosto
E meu coração aflito
Bate, pula em conflito.

Já estamos em agosto
E na beira desse brejo
Cricrila o grilo, saltita o tejo.

Já estamos em agosto
E os sapos em grande cantoria
Graves e agudos, ressonantes alegrias.

Já estamos em agosto
E o luar é noiva toda branca
Imaculado segredo de criança.

Já estamos em agosto
A difícil metade enlevada
A superar a mágoa em fria lutfada.


Hoje sou flor, amanhã serei espinho
Triste lida, triste sina
Infeliz é o meu caminho.

No Cio
Para Cazuza

Primeiro é a língua
Lânguida, leve.
Um beijo logo seguido de outro
A buscar a saliva quente.
Se houver a mistura
Já nos teremos amado.

Após, são os corpos.
E a pele na pele se roça.
A pele compila a pele
E a fricção se faz de leve
A seduzir o sabonete.
Eu me converto.

Depois é a busca
Pelo melhor um do outro.
O cheiro de seu sexo.
A fragrância do prazer.
E nos completamos
Um dentro do outro.

Agora é o gozo.
O gozo salgado, a vida.
Já não temos mais feridas.
Somos cheiro de açucena.
Cheiro de entardecer no cio.

Esquadros

É uma briga
Eterna de cores:
O azul sobre
O amarelo.

É uma briga
Eterna de arranjos:
A corda sobre
O arame farpado.


É uma briga
Eterna de sons:
O agudo sobre
O grave.

É uma briga
Eterna de amores:
A mulher sobre
O homem.


Morte

Minha morte vem chegando
Toda bela, alva e faceira
Veste branco e tem nas mãos
As flores de laranjeira.


A Vaga

Frio vento no salgueiro
A baloiçar os dedos secos
Sacode a saia de verde
A esgueirar-se nos vãos e becos

Nada reconhece e desafina
A sombra é vaga no vago
Vemos os pés que se aproximam
São pés que cruzaram frio aziago

Escuta o trovão do tempo
A serpentear sua afável cauda
É presente que floresce na vaga
Paisagem em meio à triste lauda

Tristes frascos onde a avalanche
Ora murcha, ora clama e inflama.

A seiva

O branco leite que escorre
Nessa negra floresta de amor
Jaz em tua juventude...
E nos seringais ainda em flor.

Encontrar os lábios
Abertos a ávida procura
Como miosótis, zangão
No pólen, fêmea
Que no cio arranha. Mas o leite
Derramado não fecunda a planta.

Este leite, látex, latente
Envólucro do amor em brasa
Fusão de corpo e alma.
Este leite sugado
Da entranha de rijos troncos;
Pélas, peles em profusão
De tão surrados homens.

Tudo isso e nada é meu
Amor,
Tudo isso e nada é nosso,
Sem favor.

Ave

Seis horas
Os sinos batiam
A hora da ave-maria
Mas meu coração já não ouvia
Ser homossexual era heresia
A AIDs patifaria
Na igreja, bastardos nasciam
Ou pelas latrinas levados em romaria

Seis horas
Os sinos batiam
Seis badaladas de horror
A primeira feria a alma
As intermediárias, o coração
A última assassinava
Não eram os sinos, mas a anunciação
Era criança e ainda amava

Seis horas
Os sinos batiam
A convidar fiéis devotos
As palavras de Cristo se iriam
Pela boca do sacerdote
Não, não mais seis horas
Já setembro é o fim da pregação
Os fiéis voltam aos lares
E em segredo satisfazem as carnes
E os sinos batem em redenção.

Caracolando

Caracolando


Um belíssimo caracol,
Quando já ia altíssimo o Sol,
Entre lusco e fusco pelo caminho,
Se distraía com finíssimo raminho.

Helix, da raça dos catassóis,
Morador de raríssimos atóis ,
Filósofo da sombra dos caracoleiros,
Um caramujo por caminhos espiraleiros.

Que pensava aquela Cóclea,
Toda belíssima como a azálea,
Com seus anéis de cabelos enrolados,
Dizer que não valho um caracol , me deixar de lado.

Ah! Não vou ficar de caramunha !
E este raminho será minha testemunha.
Antes que termine este caminho em espiral,
Para ela, decifrarei o enigma do Caracol de Pascal.


Eduardo Aparecido Ambrozeto

Fominha Magrigordo

Fominha Magrigordo

Venha logo, criançada,
Na maior da curtição.
Venha agora, é tão gostoso,
Vamos treinar o coração.

Sou Fominha, sou o feroz.
Nunca que eu jamais me ferro.
Se alguém quer me provocar,
Pra mamãe dou logo um berro.

Magrigordo é minha alcunha,
Já escalei telha de zinco.
Mas a arte mais danada:
No recreio espantei cinco.

Não me agite, não me espante,
Faça um furo onde está o aqui.
Se me amassam sou um abacaxi.
Cuidado com a tromba de elefante

Se me aperta, eu encho.
Se me solta, eu esvazio.
Mas a criançada gosta mesmo
É do leite do meu branco pavio.

De quem é essa boca?
Já estou esvaziando!
Veja bem, agora gordo.
É o ar que vai entrando.

Magrigordo sou atleta
Já de última geração
Se me escolhe sou alegre.
Jamais faço papelão.

Tapete Marroquino

Tapete Marroquino

I
Secos .
Os pés da Grande Mesa estão secos.
Também estão secos os pés das cadeiras que se acomodam à sombra, estanque, da mesma Grande Mesa.
São pés secos, prolongados; os pés pendidos, retorcidos, enviesados nas oito cadeiras - a visita chegará em hora inoportuna - dispostas perfeitamente, bem como toda iguaria seca posta, naquela Grande Mesa.
São uvas secas, destituídas da água que nos obriga a viver no deserto - o fogo queimará cada milímetro da total secura. São secas as palavras pronunciadas pelos lábios secos. A seca palavra que impele cada cadeira contra o seco assoalho de madeira verde. A importância é seca. Flores secas ornam lágrimas secas da vela cuja parafina não escorre e o pavio não queima. Um defunto repousa seco na outra sala e chora a seca verdade da vida.
Um cacto passeia pelo charco.
As roldanas do velho verão instigam o inverno molhado. A alma está seca. O espinho para o cacto é o apêndice para o camelo. Na aridez do cacto a intempérie do charco.
Uma toalha ressequida repousa e tem pesadelos sobre a mesa - o vinho seco derramado nas tramas de sua vida seca.

II

Um lobo observa do outro lado da varanda. Seu olhar e ganido fazem com que desvie a atenção. O lobo está entre duas rosas: uma, vermelha; outra, está amarela.
Abelhas driblam as telhas e colhem o néctar na cobertura florida. Um botão ainda não se desenvolveu e mostra pequenas pétalas e sépalas.
Apenas um botão.
Nuvens escuras engolem o céu e debulham lágrimas secas sobre a cidade.
Olhos pousam numa rolinha que arisca voa rasante em direção ao cacto. Um vento louco sopra sobre cabeças. Um estupor toma conta de almas.
Viajo entre as abelhas e não encontro meu zangão.

III

Mijo na flor amarela, eternizada no tapete de retalhos que pertenceram a outrem.
A flor amarela absorve o mijo que escorre de um membro senil.
A descarga leva a flor. Ainda, minha inconsciência me faz aflorar.
No mesmo tapete vejo margaridas amarelas que desviam-se do jato com suas pétalas rebatedoras.




IV

Um saco exposto balança pendurado no arame farpado.
As farpas do arame dilaceram o saco que aceita passivamente a intransigência entre o não poder se desprender das amarras do arame e o sobrevoar de uma borboleta fertilizada. O mesmo vento agita distraidamente a taboa inerte no centro do lago. Inerte, a lua se demora na noite, opaca pela vontade de nós dois.
O vento já não é mais suave. O balanço agora é atordoado. A dor do vento é insuportável. Subtrai-se um acorde da dor e o vento permanece indiferente.
Os acordes chegam do tapete morno. A poça amarela é mais verdadeira que o saco que balança.
Um homem com varas de pescar passa agitando o seu podão, e, com um leve movimento ceifa a flor espumante.

V

Dois sujeitos ocultos pela bruma da noite, negro véu lanceolado entre a cerca de arame e os pés secos da mesa, passeiam pela lua visualisada entre o reflexo freudiano do espelho e o horizonte demarcado pela sua silhueta.
Um e outro se procuram a cavalgar o Alazão de São Jorge e a manusear sua espada tão certeiramente quanto o fogo cuspido pelas ventas do dragão matutino.
A lua matreira urina na espada os cristais de suas crateras escravizadas pela poeira cósmica.
As bordas do tapete se enrolam em pensamentos enquanto um gozo frenético exala no ar o cheiro da primeira cópula.
Estamos grávidos de nossa linhagem.

Eduardo Aparecido Ambrozeto




Cacarecos e Outros Trecos

O Grilo

Grilo Gridelém, o que é que você tem?
Sou um grilo cricrilante,
gripado vim ao hospital,
com frio botei meu hábito de grise,
estou grilado pois termina o carnaval.

Grilo Gridelém, o que é que você tem?
Meu cri-cri estridente grila a todos.
Veja! Um grifo que não tarda ser pai.
E essa grifa que veste griffe, mostra a barriga,
encanga grilos e sorrateira pela porta vai.

Grilo Gridelém, o que é que você tem?
Eu devo grifar o meu cri-cri,
mostrar o meu grilhão com grigris,
colher uma grifínia no vaso
e oferecer à grifa de olhos grises.

Grilo Gridelém, o que é que você tem?
Envergonhado, cricrilante, escutarei
desaforo dos mais desatinados.
A graça da grifa dirá ter grinfo
e que não fica com desafinados.

Grilo Gridelém, o que é que você tem?
Antes virasse cachorrinho-de-areia.
A grifa já anuncia novo rebento.
E o pai, que não é o que se apresenta,
arcará com o grilo do sustento.

Grilo Gridelém, o que é que você tem?
- Eu, humano, no vão me escondo.
Da minha gris, aproveito a situação.
Melhor é cricrilar pelas noitadas
do que à grifa oferecer meu coração.

Submarino

O que você está olhando
Cachorrinho domesticado?
O mar em sua calmaria,
O submarino afogado?

O que você está olhando
Cachorrinho tão atento?
As mães que choram os filhos,
As flores que orvalham ao relento?

O que você está olhando
Cachorrinho obediente?
Vladimir, insensível soldado?
Irina, viúva descontente?

Cachorrinho, Cachorrinho,
Seu olhar aonde olha?
A chave eletrônica?
A lágrima que molha?

Bem que eu gostaria,
No seu jeito desengonçado,
Encontrar feliz caminho
Para viver bem sossegado!

Quantos mosquitos apanhei?

Quantos mosquitos apanhei?
Minha mão está fechada!
Serão 3, 5?! Ou quem sabe uma estrada?!

Quantos mosquitos apanhei?
Minha mão está aberta!
Ah! Seu bobão! São seis em sua testa!!

Quantos mosquitos apanhei?
Minha mão está no joelho!
Serão 7, 14 ?! Não acertou esse pentelho!!

Quantos mosquitos apanhei?
Minha mão está no copo!
Dou uma dica. Quer? Eu topo.

Quantos mosquitos apanhei?
Minha mão está voando!
Serão 6, uma dúzia?! Ouçam! Estão zoando!

Quantos mosquitos apanhei?
Minha mão é um recreio!
Nove?! Não! Apenas um, partido ao meio!

Quantos mosquitos apanhei?
Minha mão está no ralo!
Quantos?! Não vale! Eu me calo!

Cavalinhos

Cavalinho dourado,
Onde vai tão molhado,
A carregar o soldado,
Por esse campo tão branco?

Cavalinho azul,
Já vai para o sul,
Com o vento em debru,
Por esse campo tão branco?

Aos pares, os dourados.
Sozinhos, os azuis.
Cavalinhos alados,
Cavaleirinhos encantados,
Eternos namorados,
Por esse campo tão branco?


No branco do linho,
Gentis cavalinhos,
E seus azevinhos,
Relincham mansinho,
Por esse campo tão branco.

Fases

Quatro cartas
Quatro selos
Uma bandeira
Uma distância
Tão amigos
Tão contentes
Um adulto
Tanta infância

Quatro cantos
Quatro encantos
Uma vida
Uma viagem
Tão próximos
Tão distantes
Um adulto
Tanta infância

Quatro estrelas
Quatro mapas
Uma data
Uma palavra
Tão divinos
Tão meninos
Um adulto
Tanta infância

Palhaço

Pendurado na parede,
procurando o picadeiro,
faz-me rir com suas graças
dias, meses, o ano inteiro.

Seu cabelo cor de palha,
separado em dois montinhos
parece um ótimo lugar
para pássaros fazerem ninhos.

Sua roupa e seu nariz,
tão vermelhos, tão bonitos:
na roupa , flores azuis;
no nariz, um branco lírio.

O pescoço e os tornozelos,
circundam rendas brancas.
Abre a boca, diz palavras
que alegram às crianças.

Assim que eu crescer
e na parede alcançá-lo,
vou devolvê-lo ao circo
para sempre alegrá-lo.

Estou-fraca

Picota, minha Picota,
Qual o motivo da gritaria?!
Ficou fraca, ficou fraca,
Ensandeceu da noite pro dia?

Estou fraca, estou fraca!!
Veja meu capacete de marfim!!
Era lustroso, era belo,
Não reluz mais, é o meu fim!!

Angolinha, minha Angolinha,
Qual o motivo da correria?!
Voou alto, voou alto,
Viu coisas que não devia?!!

Estou fraca, estou fraca!!
Veja minha saia de bolinhas!!
Era branca, está suja,
Tudo por causa da Galinha!!

Pintada, minha Pintada,
Qual o motivo da histeria?!
Bebeu água, bebeu água,
Em lagoa que não podia?!

Estou fraca, estou fraca!!
Longe vou fazer meu ninho!!
Passo matas, passo brejos,
Só fiz sujar meus pezinhos!!

Angolista, minha Angolista,
Qual o motivo verdadeiro?!
Grita alto, grita alto,
Estou fraca, o dia inteiro!!

Estou fraca, estou fraca!!
Digo sempre ao mundo inteiro!!
Alguém me ouve?! Alguém me entende?!
É minha sina no galinheiro!!

Passeio

Pernilongo
E seu pé oblongo
Passeiam pelos pântanos
De esteira rolante ao entardecer.

Caracol
E seu cachecol
Passeiam pelas ruas
De Paris ao amanhecer.

Pardal
E seu avental
Passeiam pela cozinha
De Nete ao almoçorecer.

Joaninha
E sua saínha bolada
Passeiam pela praça
De Nápole ao anoitecer.

Cachorro
E seu gorro
Passeiam pelo lixão
De Orinoco ao anoitecer.

Poeta
E sua bicicleta
Passeiam pela imaginação
Dos sonhos noturnos
De crianças sem parafusos.


Bate-Bunda

Bate-bunda
Nunca afunda
Bate-bunda
Nunca afunda
Jamais quebra
Nunca afunda
No curioso traz de volta
É o nosso amigo bate-bunda
Nas águas da lagoa
Não ferroa
É avião
Supersônico
É helicóptero
De resgaste
Nas asas de minha infância!
E quando eu adultescer
O transformarei em libélula.

Girassol

Meu girassol colorido,
É manhã, vê se levanta.
São tantas tonalidades,
Mas é a sua que me encanta.

Nesse canteiro ornamental,
Você é o mais querido.
Esse raio de sol me acalanta.
Faz que seja de todos o preferido.

Amarelo-limão de centro claro,
Amarelo-limão de centro escuro,
Vinho, rosa, ferrugem é claro,
Mas, é só você meu amarelo-muro.

Não virará óleo, gentil girassol!
Na sua vida alimentará pássaros!
E sua prole fincará raízes,
E seu movimento mais será belo e raro.

Nas matas ou nas encostas dos morros
Seu colorido alegrará olhos que vejam
E as festas dos bem-te-vis, beija-flores
No doce néctar de seus cílios sobejam.

Lisrial de Matate

500 folhas de papel sulfite
para escrever uns bons palpites.

01 caderno de desenho grande
para que meu gigante tenha espaço e ande.

01 caixa de lápis de cor
para colorir uma flor para o meu amor.

01 caixa de giz de cera
para saborear gostosa túbera.

01 jogo de tinta guache
para colorir sorvete de pistache

01 caixa de massa de modelar
para minhas idéias, através das mãos, revelar.

01 lápis preto
para escrever no coreto.

04 borrachas
para devorar saborosas bolachas.

01 pincel número 8
para fazer, na hora da fome, biscoito.

03 cartolinas
para no calor inventar piscinas.

02 folhas de papel crepom
para fazer barulhinho de gatinho rom-rom.

02 folhas de papel pardo
para a exposição eu nunca tardo.

02 folhas de papel dobradura
pássaros, flores, paisagens, uma aventura.


02 folhas de papel laminado
para noites de São João um foguetório estralejado.

01 tesoura sem ponta
para que não fure feito tonta.

02 tubos de colas grandes
para colar rabinhos em elefantes.

01 pacote de lantejoulas
para fazer lindas papoulas.

03 folhas de hectográfico
para movimentar meu álbum geográfico.

01 estojo hidrocor
para pintar um monomotor.

01 apontador
para diminuir a minha dor.

30 centímetros de plástico
para carregar o Oceano Ártico.

50 palitos de picolé
para fazer cerquinha pro meu chulé.

05 caixas de palito de fósforo
para construir um luminoso semáforo.

01 caixa de palitos de dente
para fixar o isopor carente.

02 revistas
para o detetive procurar pistas.

01 rolo de papel higiênico
para fazer animalzinho transgênico.

Observações: todo material deve ser encapado com papel furtacor de pensamentos e os nomes devem ser bem visíveis para qualquer coração com cem olhos.

Espanhola

A Guzerá lambe a narina
Posando para a fotografia.
Espicha a língua comprida
E lambe a narina vazia.

É famosa. Precisa aparecer.
Elos de prata a cabeça enfeitam.
Não possui brincos alaranjados.
Os chifres inimigos espreitam.

Nelore, Zebuíno, Tabapuã
É tudo gado de raça.
Mas quando encontro a Guzerá
Aí é que a vida ganha graça.

É dengosa, uma grande artista.
Tem sobrancelha delineada.
Usa tintura de cores vivas.
Quem dera ser minha namorada!

Guzerá é vaca radical.
Nunca freqüenta a zona livre.
É precavida, não tem aftosa.
Até já fez cirurgia de varize.

Do seu dono ela é orgulho
Em qualquer exposição.
Guzerá é vaca-maravilha,
Top-model do meu coração.

A Patinete

Meu pedido de Natal,
Ao querido Papai-Noel,
Foi uma magistral patinete,
Rodas de silicone cor-de-mel.

Ela chegou toda lampeira,
Naquela noite iluminada.
As renas comeram o capim
Da minha botinha encantada.

Aos pés da minha cama,
O bom velhinho deixou
A esperada patinete Nanete,
Com quem meu sonho sonhou.

Pomposa Patinete prateada,
Com adesivos, toda chique.
Parece ter asas nas rodas,
Desliza sem ter chilique.

Meus pés, o combustível.
As mãos, minha imaginação.
Rodopia a roda da frente,
Salta meio metro do chão.

Conheceu a patinete vizinha
E logo de cara se engraçou.
Minha patinete é masculina.
Isso muito me embaraçou.

Me trocar por uma patinete
De rodinhas bem amarelas!
Eu acho que isso não se faz!
Estarei bem de mal dela!

Como o Natal está longe...
E quem tá de mal come sal...
Passearemos todos juntos
Em uma velocidade colossal!

Onde encontrar?!

O Dário?
No abecedário.
A Teca?
Na biblioteca.
A Téia?
Na alcatéia.
A Mada?
Na armada.
O Ênio?
No biênio.
O Mestre?
No bimestre.
A Ana?
Na boana.
A Marília?
Na camarilha.
A Nália?
Na canalha.
A Vana?
Na caravana.
A Tida?
Na partida.
A Iara?
Na piara.
A Iracema?
Na piracema.
Tanta idéia?
Na panacéia.

De água e amor

Água-de-flor é tão cheirosa,
Cheira à flor de laranjeira.
Quando passa o meu amor,
Fica muito mais faceira.

Água-de-Sol é bem fininha,
Invisível de dar dó.
Vive tão desassossegada,
No sertão do Catimbó.

Água-de-chuva é gostosa
Quando vira enxurrada.
Meu barquinho de papel
Vira sonho na enseada.

Água-de-Rio é bem forte,
Carrega o grande e o pequeno.
É tão bela, tão ruidosa
A levar um barco e um remo.

Água-de-Cachoeira é beleza,
Véu de noite na imaginação.
Cai sem Ter medo da morte,
Adora um rafista em ação.

Água-de-represa é tristeza,
Chora e faz perder tanta história,
Mas quando passa por uma turbina
Sorri, se espicha, é a glória.

Água-de-reservatório é alegre,
Sabe bem ser importante.
Salva a vida das pessoas.
Sempre alegra o retirante..

Água-de-enchente é destemida,
Não há forte que resista.
Destrói casas, carros, prédios,
Quase sempre prejudica à vida.

Água-de-colônia pelo corpo,
De bergamota, de limão, de lavanda,
Faz saber por quais suaves águas
Meu amor onde é que anda..

Salada de Ciranda

Ciranda, tem quitanda
Vamos todos no embalo
Do robalo que rebola
Vamos dar inteira volta
Que a roda não desanda

O anel que cai no lago
É de vidro vira espelho
Quebra o azar de sete anos
Do temido Mar Vermelho
O girassol que vai girando

Batatinha já nasceu
Do chão não quis desgrudar
Dormiu toda agasalhada
Para insetos não picar

Por isso quando canto
No encanto do meu breque
Corro atrás da bicicleta
É isso que me diverte
Não tenho tostão no bolso
Minha sandália é Havaianas
Sempre saindo entre os dedos
Já está presa com ramona
Mas na vida o que me alegra
É rodopiar a ciranda.

Jardim

Um sol brilha doirando
A menina que balança na árvore
Peixes nadam colorindo
O pequeno lago de mármore

Uma flor nesse jardim
Se destaca, é diferente
Não é a Ninféia de Monet
Mas tem calor ardente

Um pato solitário percorre
As águas do lago marmóreo
No azul translúcido do céu
Ele nada, perdido, ebóreo

Pássaros sobrevoam o horizonte
Numa cantoria melodiosa
Outros gorjeiam escondidos
Na escura paz silenciosa

A ponte ultrapassa
O lago solta no espaço
É o caminho, é o encontro,
O calor de um forte abraço

Quem de olhar não se cansa
E na paisagem penetrar
Verá que no espelho das águas
Estará o espelho de cada olhar.

Terra Natal

O Sol surge atrás dos montes...
Vem vermelho, coroado
Homem no campo trabalha
Atrás do burro segurando o arado.

Uma carroça, na estrada vai...
Chorando o pó que levanta
Enquanto no horizonte é cedo
Sol vermelho alegre desponta

Um rio de águas azuis cristalinas
Vem do rumo onde o Sol já nasceu
O vermelho dos raios do Sol
Doira a água onde muito peixe cresceu

O ipê com suas flores rosadas
Imponente alegra o verde da mata
Sertanejo feliz com a vida que leva
Agradece a Deus em cada alvorada

Frutos vermelhos, amarelos, de cores mil,
Enfeitam as árvores e não é natal.
A natureza, para o sertanejo, é festa
Que a cada dia se apresenta colossal.

Uma escada de brilhante nos leva
Até o topo de uma montanha reluzente
De lá, olhando ao redor, percebemos,
Ter tudo isso, seria motivo para viver contente.

Remendando

Um pingüim assim de casaca,
Todo empolado para o frio,
Escorrega alegre pelo gelo
E toma água fresquinha no rio.

Uma borboleta em sua casa,
Namorando o girassol,
Esvoaça coloridas asas
Em meio ao milho no paiol.

Coração de olhos verdes,
Grossos lábios sedutores
Tem num lado tantos sonhos
Noutro tem tantos amores.

Pássaro alado que transporta,
Sábio homem, aventureiro,
Vá buscar meu coração
Metade não traga, traga-o inteiro.

Verde árvore, verde árvore,
Menina que os sonhos embala,
Usa trança, usa colares,
De macarrão e doce bala.

Um pato amarelo
Nada num lago azul,
O pato e a água, unidos,
Namorados lá do sul.

Quanta chuva vem agora,
A molhar todos nós,
A fita da menina, a bola,
Da natureza os rococós.

Quem é o herói que vem
Todo vestido, preparado,
Enfrentando todas as guerras,
Meu destemido namorado?

Avozinha com a chaleira
Prepara o casamento,
É a noiva, é o noivo...
Que bom! O chão lamacento!

Um lobo cinza
Perdeu as pintas
Para a galinha-d’angola
Numa briga com cintas.

Um avião perdeu o rabicho
Engarranchado no sino da igreja.
Viva a bela, viva a fera,
E acabemos com toda inveja.

Cavalinho acrobata,
Peixe-flor vive no ar,
Pega lá o meu amor,
Estou pronto pra casar.

Macieira tão cheinha,
Você viu o meu amor?
Sou a princesa encantada,
Procuro o sapo cantor.

Onde vai minha sereia,
Com suas escamas douradas?
Busque o meu coração.
Perdi-o na enseada.

Para terminar o lenga-lenga,
Vou pegar o caminhão,
Os seis cordeiros encantados,
O meu metido pavão,
Colocar tudo na trouxa
E ir ver esse mundão.

Vida Criança

A vida é um Sol colorido
Com um cachorrinho
A nos acompanhar...

É uma borboleta em arco-íris
A nossa frente a nos alegrar...

É um gatinho com “bigodes”cinza
Em noites de mar sem luar...

É a tabuada decorada
E guardada na imaginação...

É um elefante trombudo,
De olhos verdes e amor no coração...

É uma lagartixa negra
Mostrando a língua pela fresta
Com olhos alegres em dia de festa...

É uma formiguinha sem antenas
Querendo comprar uma parabólica...

É um escorpião dizendo a todos
Que não vai usar mais o seu ferrão...

É um passarinho amarelo
Cantando as alegrias da natureza...

É um cachorrinho latindo
Para o seu dono
Em agradecimento à liberdade...

É uma margarida
Em forma de pirulito
Esperando adoçar a vida...

É um rato com brilho nos olhos
Livre do gato esquisito...

É um estilingue jogando flores
Nos pássaros aflitos...

É um tatu a perfumar a terra
Para nos entregar o amor...

É um osso de galinha
A deixar o cão alegre...

É uma nuvem alegre e azul
A abrigar um passarinho marrom...

É uma barata “kafquiana”
A sobrevoar nossa imaginação...

É um professor a nos mostrar
Que a “vida” é, a cada dia,
Uma nova lição..

É uma cobra venenosa
A ceder para o homem
O líqüido da salvação...

São as árvores
A embelezar
Nossa melhor visão...

É uma flor
A se abrir
Depois de ter sido singelo botão...

É o carteiro
A nos entregar todos os dias
As alegrias e as tristezas
Dos amigos que moram longe
Mas vivem em nosso coração.

Olhos Encantados

Casinha azul da serra,
De telhado multicolorido,
Abra tuas janelas e conta,
Teus segredos ao meu ouvido...

A igreja sempre abriga,
Em seu calmo interior,
Casais que fazem juras
Perando Cristo Nosso Senhor...

A água que nasce no morro
Desce ligeira, a sede, a saciar.
Homem que trabalha no campo,
No regato, aos domingos, vem banhar...

As flores que embelezam a natureza
Espalham seus perfumes ao vento.
Crianças correm soltas pelos campos,
Livres, alegres, brincando com sentimentos...

No céu, Sol dourado e nuvens azuis
Brincam com os elementos da terra:
Iluminam as cores, penetram nas grutas,
Conquistam a noite e adormecem na serra...

Num jardim, abelhas zunem
Competindo com a gritaria.
São anjos endomingados,
Dando vivas à Virgem Maria...

O azul envolve a natureza
Trazendo paz, amor, harmonia...
Que todos nós sejamos envolvidos
Pelo amnto azul de Maria!!...

Amizade

A amizade é um encanto
Que se aprende com a vida...
É a flor que desabrocha,
O fogo que queima a tocha,
O aprender feito na lida,
A voz que é doce acalanto.

O encanto da amizade é o amigo
Que com a vida tudo aprende...
O desabrochar de pequeno botão,
O palpitar de vermelho coração,
A tocha a iluminar quem a acende,
O acalanto no interior de suave abrigo.

Mangá

Plugada num fino cabinho,
Faz-me viajar os seus carpelos:
Parecem nuvens de sonhos,
Juntinhas em meus novelos.

Ser da família das anonáceas,
Faz-me lembrar anões.
E suas grandes fantasias
Gostosas tais quais melões.

Fruta exótica, mágica,
Uma imagem em cada gomo.
Um mangá em belo tronco.
Nele eu subo, apanho e como.

Graviola, Cherimóia,
Pinha ou fruta-do-conde,
Atemóia e fruta-da-condessa,
Um segredo em cada se esconde.

Fruta-do-Conde é bem nobre.
Foi trazida pelo Conde Miranda,
Que o plantou na Bahia,
Sob festas de Ciranda.

Atemóia, bela e faceira,
Nasceu de um grande amor:
Encontraram se, cherimóia e pinha,
No nordeste de intenso calor.

Cherimóia, espanhola,
Desfolha-se no inverno.
Mostrando formas belas,
Sua seiva é alimento eterno.

Broca-da-fruta é problema,
Quando ataca a plantação,
A poda é na hora certa,
Também irrigação e polinização.

Você, que é inteligente e esperto,
Observe com muita atenção:
Montanhas mágicas, cavernas,
Florestas : atemóia-imaginação.

Um amor de jumento

O que estarão ouvindo
Três jumentas tão atentas?
Serão abelhas, cachoeiras,
Velhas cadelas sarnentas?!

Seis orelhas tão eretas!
Seis cavernas tão escuras!
Guardam tantos os segredos:
Querem chupar mangas maduras!

Três irmãs muito posudas:
A Burguesa é a mais tola.
Rena é muito namoradeira.
E Fabíola a mais frívola.

Quando surgem os mosquitos
No maior zum, zum, zum, zum
O ventilador são as orelhas
Os rabos abanam o bumbum.

Seus olhares tão pra frente
Buscam sempre o vasto mundo
Quando o amor fala mais alto
Todas querem o Raimundo.

Jumento mais batuta
Com belos músculos e inteligente
Mora pras bandas de Itapetininga
É sempre amigo e sorridente.

Ficam as três tão ouriçadas
Dão saltinhos relinchando
Adivinhem o que acontece?!
Raimundo está chegando!

Serenata Orquestrada

Venham ver o mor regente
Na maior empolgação
Regendo os violinos
Com a batuta na mão.

Logo na primeira fila
Charmosos violoncelos
Chacoteados por contrabaixos
Gritando serem magrelos.

Violas enluaradas
Na Segunda, bem dispostas
Discutem com os oboés,
Para os fagotes dão as costas.

Na outra extremidade
Estão as harpas faceiras
Só ficam com o Corne Inglês
Para o flautim não dão bandeiras.

Trompas, Trompetes, Trombones
Prestem mais muita atenção
O maestro está quase louco
Com a sua batuta na mão.

Percussão, tímpanos, tuba
Contra nunca participam
A platéia em polvorosa
Vaiam, gritam e se irritam.

As luzes logo acendem
Eis que o som muda de cor
Strauss esvoavalsa pelo teatro
E o público é todo amor.

Sótão de Idéias

No meu sótão de idéias
Tudo é sempre muito batuta.
Minha careca: aeroporto para mosquitos.
Meus heróis da resistência: cipós para macacos.
Minhas orelhas: piscinas para patos.
Meus olhos: naves para extraterrestres.
Minhas narinas: casinhas para minhocas.
Minha boca: buraco negro no espaço.
No meu sótão de idéias
Tudo é sempre muito do avesso:
O fim nunca vem do começo.

Tá Dito

Pelo buraco da agulha passa o camelo
Mas também todos os outros animais.

No pau que nasce torto
É só colocar talas e ele endireita.

Se eu tenho um pássaro na mão
Eu o solto e ele voa junto com os dois
Que estavam livres no céu.

Se torcer o pepino de pequeno
Corro o risco de anular a criação.

Eu seguro a fita da noite
Com suas luas cheias de ditos
Minguantes, crescentes, novos...
De repente o filme queima
E um sol escaldante
Toma conta do sonho.

Miado

Uma ciranda
De roda
Povoa a cabeça
Do maestro.
A batuta
De marfim
Joga notas
De músicas
Nos ouvidos
Do gato.

Maldade em Três Atos

Um pernilongo zuniu...
Zuniu no meu ouvido.
Mostrei a língua para ele:
- Eu prefiro o mosquito!

Lagartixa passeando
Pelo vidro da janela
Pego o gelo e encosto
Na branca barriga dela.
Um minuto e ela esfria
Corre para outro canto
Buscando fogo aceso.

Um mosquito
Era amigo do periquito
Até que o periquito com fome
O confundiu com o pernilongo.

Cacarecos

- Vai Ter festa?!
- Não!!
- Por que está limpando o salão?!
- ... ( e fecha a cara).
- Ah! Não é que ficou bicudinho!!!
- ...

Todo dia esse cara
Na maior chateação
Me pega desprevenido
Com meu cacareco na mão.

O indicador sempre em riste
Rola no salão do meu nariz
Quanto maior o cacareco
Mais eu me sinto feliz.

A Ana toda metida
Encontra sempre um na carteira:
- Professora! Cacareco! Que nojo!
Fico sério! Não me entrego!
Essa menina é um entojo!

Cacareco bem branquinho
É sinal de anemia ou resfriado
Não dá prá fazer bolinho,
Nem campinho, nem soldado.

Cacareco escurinho
É muita falta de asseio
Ou pulou muito, ou não se lava
Ou ficou de castigo no recreio.

Da limpeza no salão
Resulta uma boa disputa
Cacarecos saem voando
Em direção à cabeça de Guta.

Cacareco é sempre encrenca
Quando as unhas grandes estão.
Os adultos se encrespam:
-Parem de limpar o salão!

Pequena farsa de uma borboleta em forma de valsa

Abre asas
Coloridas.
Nos ensina
A viver.
Cada asa
Que é lida,
Nos enche
De prazer.

Vou da China
Até Veneza,
Do Brasil
Ao Paquistão.
Nessa Viagem
É só beleza,
Muito amor
E coração.

Essa bela Borboleta,
Já sei,
Adivinharam.
É o livro,
Nosso amigo,
Com o qual
Tantos sonharam.

Trabalho

Trabalha, menino, trabalha.
Não é hora de sonhar.
Você já é homenzinho.
Vá o sonho realizar.

Quer ser médico, dentista,
Pedreiro, borracheiro, pintor.
Primeiro estuda e aprende
O que ensina o professor.

Trabalha, menino, trabalha.
Faça sempre a lição de casa.
Quem sabe numa dessas tarefas
O seu sonho cria asa.

Quer ser artista, engenheiro,
Vendedor, marceneiro, alfaiate.
Procura nas linhas dos livros
O que fará melhor sua arte.

Trabalha, menino, trabalha.
Carregando o peso da caneta.
Peso maior terá sua vida
Se não estudar para torná-la perfeita.

Quer ser alguém na vida?
Não deve esquecer a lição:
Todo homem que trabalha
Tem sempre o amor no coração.

Pitanga

O brinco broqueado
Brilha brilhante
Na branca orelha de Branca.

Branca brinca bronqueada
Com seus brilhantes amigos:
Bruna, Breno e Brenda.

A bronca de Branca
É com o bronco Breno
Que brinca com o seu brinco.

O brinco de brilhante
Brilha no breu da bruma
Que cobre a casa de Branca.

O brilho do falso brilhante
Brinca com os briguentos
E mostra a broca do brinco.

Carro acrobata

Ele era tão grandioso,
Bonito e cintilante!
A carcaça foi quebrada,
Peça a peça instante a instante.

Ficaram apenas as rodas
Amarelas reluzentes
E um miolo negro
Cheio de engrenagens atraentes.

Era um carro
Branco-cintilante
Com alma
Negro-reluzente.
Dei cabo com a chave de fenda,
De cada pedaço do carro,
De rodas amarelas do oriente.

Paisagem

Numa casa pequenina
Amarela, prateada,
Vive o sonho de menino
Na montanha azulada.

Pinheiros verdes vivazes,
Rio d’água azul cristalina,
Pedras de estrelas brilham,
Azul natural piscina.

Peixes nadam pelo rio
Em busca de aventuras.
Aceitam o desfio
De chegar à embocadura.

Da chaminé, a fumaça
Vai direto para o céu,
Desenhando borboletas,
Turtles, colibris, corcel.

Mil gaivotas sobrevoam
Essa bela paisagem.
O Sol brilha lá no canto
E a água na estiagem.

A nuvem engole o Sol,
Borboletas, as antenas.
Voam árvores-pinheiros,
Saciam-nos cantilenas.

Ah! Deus! Que nuvens escuras
Aparecem de repente!
Será bom brincar na chuva!
No barco estarei contente!

A menina muito triste
Chega e bate em minha porta.
Peço para ela entrar
Pois de cansaço está quase morta.

Nos esquentamos bem quietinhos
Sentados no rabo do fogão.
Ela me dá um sorriso
Que alegra o coração.

Flores, flores, que perfeitas!
São o Sol do meu jardim.
Tem vermelhas, amarelas,
Rosas, azuis, carmim.

Na janela aparecemos
Para tudo observar.
Não parou a chuva fria.
Nem parou o Sol dourar.

Chuva com Sol,
Casamento de espanhol.
Sol com chuva,
Casamento de viúva.

Como eu não sou espanhol,
Como ela não é viúva,
Casemos com a natureza
Faça sol ou faça chuva.

Brinco com todas as cores.
Brinco também com rabiscos.
Que seja a fumaça nas nuvens
Apenas alguns simples ciscos.

Como é muito gostoso
Usar a imaginação,
Saio do quadro agora,
Foi grande minha lição.
Do tamanho do azul rio,
Coube em meu coração
Ponto a ponto, fio a fio.

Zalabém

No posto de gasolina
Feito com caixa de tetmosol,
Levei meu carro possante
Para abastecer com luz do Sol.

Parei debaixo de uma árvore,
Bem na praça da esquina,
Quando olho para o lado,
Vejo uma louca linda menina.

O Sol brilhava amarelo,
Iluminando a estação,
O trem de ferro fuc fuc,
Ia a caminho do sertão.

Do lado da estrada de ferro
Ia um caminhão verde e vermelho.
Nele ia uma carga pesada preciosa:
Minha imagem num espelho.

No meu passeio demorado
Vi macaco, palhaço, cabana,
Gato azul e vermelho, maçãs
Na praia de Copacabana.

Até o Cascão apareceu
E viu uma nuvem furiosa.
Saiu correndo em disparada.
Ficar sujo é coisa maravilhosa.

Um robô todo metido
Apareceu na minha frente:
- Sai do carro, os documentos,
És culpado ou inocente?

Numa bolsa bem velhinha,
Muito dinheiro encontrei.
Comprei tudo o que queria,
Mas de quem era eu não sei.

À televisão
Sempre gosto de assistir.
Jogo-me no sofá,
Não consigo resistir.

Papai me dá mesada,
Logo no banco eu corro,
Deposito meu dinheiro
E vivo bem prá cachorro.

Com meu caminhão,
Um túnel eu atravesso.
Ele é azul e branco
E faz o maior sucesso.

Como é colorida minha vida!
Um arco-íris, um girassol!
Passeio na imaginação,
Enrolado em meu cachecol.

O sinal do pensamento
Também tem três sinais:
Vermelho – passe a bandeira.
Amarelo – passe o carro.
Verde – que eu passe
Com minhas fantasias de besteiras.

Dois túneis são perfurados
Na cidade de Zalabém.
Em um passo sentado.
No outro passa meu bem.

Um trem de rodas quadradas
Anda em meu pensamento.
Ai, como machuca meu cérebro
Esse trem de esquecimento.

Uma roboa assanhada
Gamou em um passarinho.
Imagina que o danado
Até a convidou para o seu ninho.

Tudo azul na goiabeira.
Tudo azul na estação.
Quem vai e quem fica
Só sabe acenar a mão.

Minha girafa esquisita
Quase chega até o Sol,
Vive pedindo sorvete
Pra refrescar seu paiol.

Pegar pra fazer barba
Dois barbeadores precisei.
Um era azul; o outro, preto.
Com os dois eu me cortei.

Ai que fome que me deu
Vendo a mesa enfeitada.
Comi pão, tomei café,
Comi queijo e goiabada.

Dentro do guarda-roupa
É meu ótimo esconderijo.
Outro dia vi fantasma,
Acabei soltando o mijo.

Minha casa tem janela,
Duas árvores e muitas flores.
Nela guardo meus pensamentos,
Minhas bonecas e meus amores.

Um vaso de flor
Sobre a mesa eu vejo.
Ai que cheiro, que perfume.
Da mamãe lembra um beijo.

Nossa! O que eu faço?
Mamãe está para chegar!
Recortei todas as caixas,
Só fiz bagunçar.
Será que ela me entende
Quando esses versos recitar?!
Os quadros

De uma casa pequenina,
Toda branca como a nuvem,
Ouço vozes sussurradas
E no telhado vejo um lúmen.

Uma floresta muito densa
Faz o verde abstrato.
Um céu azul mostra o poente
Eternizado num retrato.

Das janelas negras
Como o ébano no piano
Posso ver a escuridão
D’almas estão rezando.

Mindinho

Vem cá, Mindinho!
Vem cá, Mindinho!
Com sua bunda de maestro!
Batuta que rege translúcidas asas
Com o peito sempre aberto.

Vem cá, Mindinho!
Vem cá, Mindinho!
Não tenha medo.
Não voe tão já.
Vem cá, Mindinho!
Vem brincá.

Na rede

Brincar na rede,
Brincadeira boa.

Imitar Tarzan,
Imitadeira boa.

Mamar dedeira,
Mamadeira boa.

Balançar cipós,
Balançadeira boa.

Pendurar no galho,
Penduradeira boa.

Ouvir contar histórias,
Contadeira boa.

Espreguiçar os ossos,
Espreguiçadeira boa.

Plugar na rede,
Plugadeira boa.

Na cachola à toa,
Cacholadeira boa.

As Janelas e a Estopa
Para André François

Janelas vermelhas de minha infância,
Ouço seus ventos dos morros estancados
Por um velho saco destinto de estopa
Cujos sulcos eram choradores arados.

Das inquietas tempestades tristonhas,
Quando da chuva forte em suas gretas,
Era a velha estopa perene a fechar
O som do poderoso trovão nas retretas.

Os longos raios valentes cortando os céus,
Os zás-clarões pelas frestas divisavam
Azul, amarelo, verde, as cores cegavam,
Os lacrimosos olhos da infância clamavam.

Janelas pequeninas, suavemente caiadas
Com grosso óleo queimado das máquinas,
Em contraste com a branca cal das paredes
E a rotina rodada por dobradiças traquinas.

Taramelas corroídas de minhas janelas,
muitas vezes hélices de pensamentos,
deram vastas asas às minhas viagens
consolidaram meus livres sentimentos.

Se uma fresta fria maior aparecia,
A fina estopa para dentro puxava
E vinham a chuva, os trovões, os raios.
E meu coração mais se embalava.

As janelas e a estopa
Presentes em uma fotografia,
Rememoram através do olhar
Estopas-janelas que vivi um dia.

Retoucinho

O toucinho defumado,
Um gato angorá comeu.
Foram procurar o gato,
No mato ele se perdeu.
Ao entrarem mato adentro,
Veio um fogo e os queimou.
Um gênio apareceu no centro
E com água o fogo apagou.
Como era muita água,
Com um balde um boi bebeu,
Pois cansado de puxar trigo,
Colheu o trigo e comeu.
Dona Galinha muito brava
Botou ovo de tristeza,
Ficou sem esparramar trigo
E sem ovo de sobremesa.
Um padre que passava
Bem na hora de dizer a missa
Confundiu o Dom Macaco
Com Madame Sinhá Preguiça,
Mandou o ovo pro papo,
Esquecendo-se da missa
E de procurar o toucinho,
enquanto o gato angorá
Num canto da sacristia
Limpava o bigodinho.

Coisas de Avião

Um avião amarelo
Todo simples, mas jeitoso,
Voa longe, voa reto.
Jogá-lo é muito gostoso.

Um avião verde
Todo jeitão de borboleta
Voa alto, voa leve,
Bate as asas como atleta.

Um avião rosa
Todo ajeitado em piruetas
Voa solto, voa despreocupado,
Dá cavalinho, faz bicicletas.

Saia de relva na serra

A moça da serra enrola
A enorme saia da relva,
Rpleta de bichos da mata,
Cheia de flores da selva.

Na saia de relva brincam
Crianças de todas as cores:
Umas, escondem-se na igreja;
Outras, para a santa, colhem flores.

É noite: ó escuro, cega-nos os olhos!
É dia: ó brilho, mostra-nos as belezas!
Amor está presente em ambos
Que são partes da mesma natureza.

Uma flor vai ser colhida...
Uma flor ainda em botão!!
E será oferecida, na escola,
À menina que mora em meu coração!!

Tudo azul e tudo rosa
Em meu desejo e na minha poesia.
No azul coloco minha morena.
No rosa, minha simpatia.

As “pernas”da tartaruga,
No monte do Tobias,
Apontam para o céu
Em adoração ao Messias.

Muitas crianças festivas
Alegram a paisagem;
Através dos seus sorrisos
Passam aos olhos vivaz imagem.

Árvores de todas as formas
Dão repouso aos passarinhos
E aos namorados apaixonados
Em suas sombras fazem ninhos.

Uma borboleta colorida
Invade minha imaginação
E a saia de relva da moça
Rola a serra e vira esta canção.


Apresentação
do Autor
através dos olhos sensíveis de uma criança

Era uma vez um escritor que se chamava Eduardo.
Ele sonhava em ver crianças felizes e ser um grande escritor e ser muito famoso.
De repente sem perceber mergulhou no mundo das letras e se tornou muito amigo de cada uma delas.
Cada palavra que ele escrevia parecia Ter vida. E quando contava história então era como se fosse real cada fantasia, cada sonho. Era muito divertido.
Ele era assim muito poeta e divertido também. Eu poderia ficar horas e horas ouvindo suas poesias sem Ter vontade de parar.
Eu acho que o verdadeiro escritor é aquele que faz a gente se sentir criança, faz a gente sonhar, dar vida aos nossos sonhos. E ele fez isso comigo.

Bruno Luís Senhuk
08 anos, 3ª série D
E. E. Prof. Pedro Amauri Silva