Saturday, June 19, 2004

Sertão de Coisas


Ser tão de coisas

Luftmensch
(Homem de Vento)
A Zeca Ziembik

Um céu de flores
Sem ponte de água
Serena uma rede
De paz orvalhada
A ilhota imóvel
Navega em jangada
Onde sorve a sede
E mata a mágoa
Em verdes odores

Um burburinho
De cadeiras vazias
Em nuvens com afasias
Estanca-se no remoinho

Um rabo encalhado
Em brancas águas
Douram o céu azul
E helicifica os ventos

Um corpo caravaggiano
Fornece me mim odores
Compostos pelas teias
De músculos retesados
Imóveis, meus olhos
Matam a sede
Em seu sertão
Intocado.

My darling

I’m coming home and
Never got the change
To prove myself…

Darling, far beyond the
Rainbow’s end
When you come into my life
We’ve changed
We’ve spent
Such Happy Hours…
If you leave me alone
My love, I’ll cry.

My darling, the tears are in
My mind
And nothing is
Rhyming.
In my brain, still you remain
While I just go on
Living in the past
Since I loved you last.
Campo Santo

Campos verdes, campos verdes,
Três pássaros verdes em sobrevôo
Verdes, três copas frondosas
Aos céus,eu, em campo santo entôo
Três cantos a três ciprestes
Ufanos encantam a três vidraças
Três vidros, três vidas e três asas
Espelham a própria casa
De minha última verde morada.

Número 8

Um peixe dourado
Com olhos azuis
Engole os cabelos da moça
E desova um caudaloso
Rio de ambrosias

Canutilhos denunciam
Descobertas fragmentárias
Do mundo em decomposição
Para salvar Márquez
Da destruição

Superfícies africanas
Amarelovermelhas
Fixamovimentoarte
Nas paredes dos
Sons em instrumentos
Maracatutimbalessurdos
E excitam toda nossa
Comtemporaneidade

As flores no aveludado
Da impressão e realidade
Tipografioficializam
O carnaval personalizado
Das personas persuadidas
Pelo imbróglio graficoarte

A priore brincamos
Com o espaçoarteoito
Em número fixado
Na parede do quarto.

Pesca

Pescarei o salmão
No dourado das superfícies
Com anzóis azuis
De prateadas efígies
Num dormir de sol
Em noturna caça.

Traço delicado

Uma gota
Congela
O inseto
No ápice
Do dente
De leão.

Clavadista

A oração
Salta e
Gira o corpo
No espaço.
O mergulho
Rompe o
Espelho-d`água
E atravessa
A encosta
Do além-mundo.


Paradoxo

A vida, desconhecida, é ouro.
Internalizada, se a conheço, é nada.
Nascemos: sem sentir, sofremos.
Morremos: e, de esquecer, vivemos.
Vivos: a aprendizagem é minada.
Mortos: a vitalidade é genial tesouro.

Vestido de Noiva

Ele, a chuva e o longo véu
Plastificado desejo molhado
Que no ritmo dos pingos
Passo a passo encontra o altar
A cauda é imensa
Flutua pela água que rodopia
Em busca das entranhas
Ele, o âmago e o desejo:
Ser noiva em dia de chuva
E encontrar seu príncipe encantado
Sob forte tempestade à tarde.

Prólogo

Hedera helix
Em praia de pôr-do-sol
Brinca com o verão
De gotículas avermelhadas
No prólogo infantil
De atirar água
Mimetizada em bala
De açúcares mascavos:
Um jovem sangra adulto
Pelos olhos da ignorãça
Reverenciando Satan
Em seu trono de petróleo.

Vazamento

Cachoeirinha
Carrega o córrego
O verde-óleo
Negro petróleo
Em galeria
D`água bruta
Vazante adulta
De vago duto
Viagem virtual
Por corrosão
De exausto material
A turfa absorve
Vegetal o óleo
Resíduo reprocesso
Atmosférico excreto.


Nkosi Johnson

Ah! Ùtero sagrado
Doze anos no enfado
De Mbekiana luta
Africano símbolo
Adotiva disputa
Uma voz apagada
Por agaiviana estrada
Onde a voz desencontrada
Perde a coragem e sucumbe
Na fronteira da viagem.

Agosto

Já estamos em agosto
E meu coração aflito
Bate, pula em conflito.

Já estamos em agosto
E na beira desse brejo
Cricrila o grilo, saltita o tejo.

Já estamos em agosto
E os sapos em grande cantoria
Graves e agudos, ressonantes alegrias.

Já estamos em agosto
E o luar é noiva toda branca
Imaculado segredo de criança.

Já estamos em agosto
A difícil metade enlevada
A superar a mágoa em fria lutfada.


Hoje sou flor, amanhã serei espinho
Triste lida, triste sina
Infeliz é o meu caminho.

No Cio
Para Cazuza

Primeiro é a língua
Lânguida, leve.
Um beijo logo seguido de outro
A buscar a saliva quente.
Se houver a mistura
Já nos teremos amado.

Após, são os corpos.
E a pele na pele se roça.
A pele compila a pele
E a fricção se faz de leve
A seduzir o sabonete.
Eu me converto.

Depois é a busca
Pelo melhor um do outro.
O cheiro de seu sexo.
A fragrância do prazer.
E nos completamos
Um dentro do outro.

Agora é o gozo.
O gozo salgado, a vida.
Já não temos mais feridas.
Somos cheiro de açucena.
Cheiro de entardecer no cio.

Esquadros

É uma briga
Eterna de cores:
O azul sobre
O amarelo.

É uma briga
Eterna de arranjos:
A corda sobre
O arame farpado.


É uma briga
Eterna de sons:
O agudo sobre
O grave.

É uma briga
Eterna de amores:
A mulher sobre
O homem.


Morte

Minha morte vem chegando
Toda bela, alva e faceira
Veste branco e tem nas mãos
As flores de laranjeira.


A Vaga

Frio vento no salgueiro
A baloiçar os dedos secos
Sacode a saia de verde
A esgueirar-se nos vãos e becos

Nada reconhece e desafina
A sombra é vaga no vago
Vemos os pés que se aproximam
São pés que cruzaram frio aziago

Escuta o trovão do tempo
A serpentear sua afável cauda
É presente que floresce na vaga
Paisagem em meio à triste lauda

Tristes frascos onde a avalanche
Ora murcha, ora clama e inflama.

A seiva

O branco leite que escorre
Nessa negra floresta de amor
Jaz em tua juventude...
E nos seringais ainda em flor.

Encontrar os lábios
Abertos a ávida procura
Como miosótis, zangão
No pólen, fêmea
Que no cio arranha. Mas o leite
Derramado não fecunda a planta.

Este leite, látex, latente
Envólucro do amor em brasa
Fusão de corpo e alma.
Este leite sugado
Da entranha de rijos troncos;
Pélas, peles em profusão
De tão surrados homens.

Tudo isso e nada é meu
Amor,
Tudo isso e nada é nosso,
Sem favor.

Ave

Seis horas
Os sinos batiam
A hora da ave-maria
Mas meu coração já não ouvia
Ser homossexual era heresia
A AIDs patifaria
Na igreja, bastardos nasciam
Ou pelas latrinas levados em romaria

Seis horas
Os sinos batiam
Seis badaladas de horror
A primeira feria a alma
As intermediárias, o coração
A última assassinava
Não eram os sinos, mas a anunciação
Era criança e ainda amava

Seis horas
Os sinos batiam
A convidar fiéis devotos
As palavras de Cristo se iriam
Pela boca do sacerdote
Não, não mais seis horas
Já setembro é o fim da pregação
Os fiéis voltam aos lares
E em segredo satisfazem as carnes
E os sinos batem em redenção.

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